Breve percurso das séries de animação em Portugal: Pioneiros
I – Os Pioneiros
Em Portugal a produção de séries de cinema de animação inicia-se nos anos 70 com o surgimento dos pequenos clips musicais televisivos, que assinalavam o final da emissão para o público infantil. Eram geralmente canções de embalar com uma letra divertida e acessível, “A Família Pituxa” e “Boa Noite, Vitinho!”, entre outros. É possível que este género de série de animação tenha sido “importado” de França, uma vez que me 1964 é exibida na televisão francesa a série “Le Manège Enchanté” da autoria Serge Danot, que segundo Rui Pedro Vieira (2005) “chegou também à Grã-Bretanha, com a estação BBC a transmitir diariamente um episódio ao início da noite”. Este tipo de exibição tornou-se popular na Europa e a vizinha Espanha não foi excepção, em 1965 é criada por José Luís Moro a “Família Telerín”, protagonista dos clips musicais espanhóis.
Em 1971 surge em Portugal a “Família Pituxa” que exibe notórias referências à espanhola “Família Telerín” e às personagens da série francesa “Le Manège Enchanté”. As personagens femininas apresentam semelhanças nas três séries, exibindo um lacinho na cabeça. O cão da “Família Pituxa” é uma clara homenagem ao Pollux francês, a Joana portuguesa deixa fugir o seu pijama da mesma forma que a Cleo espanhola e o bebé Pelé encontra o seu homónimo no bebé Cuquín.
Estas referências podem ser justificadas pela proximidade dos realizadores portugueses com os realizadores espanhóis, uma vez que Artur Correia e Ricardo Neto, fundadores do estúdio Topefilme, trabalharam em Espanha no estúdio Telecine-Moro, de Santiago e Luís Moro, realizadores da “Família Telerín”.
O tema deste tipo de séries de clips musicais é recorrente: marcar a hora de os mais novos se deitarem, e cada episódio é exibido durante um certo período de tempo que varia entre meses e anos. Quando a validade do episódio expira ele é substituído por outro, onde as personagens se mantêm.
Em Portugal, sstas séries eram encomendadas pela RTP (televisão pública portuguesa) e produzidas em estúdios de animação diversos. O tempo de exibição deste tipo de série variava substancialmente, dependendo, na maior parte das vezes do seu sucesso junto do público infantil. A série “O Patinho”, realizada por Rui Cardoso e produzida pelos estúdios da Animanostra em 1999/2001, é o exemplo mais recente e mediático, tendo alcançado um enorme sucesso. Segundo Humberto Santana (2003) “a rentabilidade [da série] foi de um para cem, investiu-se mil e ganhou-se mais de cem mil”. No entanto a série seria retirada do ar após os responsáveis de programação da RTP considerarem que “mandar as crianças para a cama é perder audiência” [Santana:2003]. Apesar deste contratempo em terras nacionais, o filme do patinho alcançou uma boa aceitação a nível internacional, tendo o Museu do Audiovisual de Nova Iorque adquirido uma cópia do filme para que a mesma configurasse dos seus arquivos.
A estas séries de clips musicais segue-se aquela que podemos considerar como sendo a primeira série temática portuguesa, “Contos Tradicionais Portugueses”, realizada por Artur Correia e Ricardo Neto na Topefilme, entre 1974 e 1977. A série exibida na RTP, e apoiada financeiramente pelo Instituto Português do Cinema, apresentava vários episódios de 8 minutos cada, onde os contos tradicionais portugueses como o “Caldo de Pedra”[1] ou “Os dez Anõezinhos da Tia Verde Água”, eram apresentados, não só aos mais novos, mas aos adultos também, tendo corrido todo o país, “em salas de cinema, em casas do povo, agremiações”. Artur Correia (2003) diz “ tal foi o sucesso, tantas as cópias tiradas, que se estragou um negativo, e foi feito um novo negativo a partir de uma cópia nossa [de Artur Correia e Ricardo Neto]”. Segue-se aos “Contos Tradicionais Portugueses” a série “O Ouriço-Cacheiro”, realizada também por Artur Correia e Ricardo Neto na Topefilme entre 1979 e 1989, tendo sido exibida na RTP. A série destinava-se ao público infantil e relatava as várias peripécias de um ouriço e seus companheiros em 9 episódios de 8 minutos cada. Escrita por Maria Alberta Meneres, esta foi uma série cronológica de intervalo popular na altura, tendo obtido, segundo Ricardo Neto, o primeiro lugar num festival que premiava a qualidade dos filmes dedicados ao público infantil. A encerrar aquele a que podemos chamar de primeiro período da produção de séries de animação temos a série “O Romance da Raposa” realizada por Artur Correia e Ricardo Neto na Topefilme entre 1987 e 1988. De toda a produção balizada entre 1970 e 1988, a série “O Romance da Raposa”, uma adaptação do romance de Aquilino Ribeiro, é a mais longa e elaborada, sendo constituída por treze episódios de treze minutos cada, apresentando no seu total 169 minutos, sendo a primeira série de grande envergadura produzida em território nacional. O sucesso que alcançou fez-se sentir não só a nível nacional, mas a nível internacional, tendo sido exibida em várias televisões internacionais, nomeadamente na Europa do Leste. Ainda hoje é possível encontrar várias referências a esta série na Web, nos fóruns sobre séries infantis ou desenhos animados, sejam eles nacionais ou internacionais[2].
Ainda durante este período podemos assinalar dois casos isolados, o primeiro referente a um episódio produzido em Portugal, pela Topefilme em co-produção com a Corona Cinematográfica, no ano de 1974, com o objectivo de participar num projecto europeu que consistia num conjunto de episódios reunidos sobre o tema “Série Favolística Europeia” e que se intitulava “Lenda do Mar Tenebroso”. Este episódio, realizado por Ricardo Neto tinha a duração total de doze minutos e marcou, segundo ele “a primeira presença portuguesa internacional a nível europeu, num conjunto de curtas-metragens de animação de diferentes estúdios da Europa.” [Neto:2003].
O segundo caso está relacionado com a realização de um episódio piloto para uma série, que não chegou a ser concretizada. O episódio intitulava-se “Patilhas e Ventoinha em o Caso da mosca TV” e tinha sido realizado por Artur Correia e Ricardo Neto, tendo a duração de um minuto. No entanto, por falta de apoio financeiro a série acabou por não se realizar.
[1] Este episódio foi seleccionado para o Festival Internacional Lucca em 1976 e para o Festival Internacional de Zagreb em 1978.
[2] É possível encontrar várias referências nacionais e internacionais à série na Web: www.mistériojuvenil.com (Portugal);
www.alambiquezz.blogspot.com (Portugal)
www.youtube.com/AnimacaoPortuguesa (Portugal)
www.memorabilia.blog.hr (Hungria);
http://static.wikipedia.org/new/wikipedia/hr/articles/l/i/s/Lisica_Sko%C4%8Dibarica_6143.html (Hungria)
Em Portugal a produção de séries de cinema de animação inicia-se nos anos 70 com o surgimento dos pequenos clips musicais televisivos, que assinalavam o final da emissão para o público infantil. Eram geralmente canções de embalar com uma letra divertida e acessível, “A Família Pituxa” e “Boa Noite, Vitinho!”, entre outros. É possível que este género de série de animação tenha sido “importado” de França, uma vez que me 1964 é exibida na televisão francesa a série “Le Manège Enchanté” da autoria Serge Danot, que segundo Rui Pedro Vieira (2005) “chegou também à Grã-Bretanha, com a estação BBC a transmitir diariamente um episódio ao início da noite”. Este tipo de exibição tornou-se popular na Europa e a vizinha Espanha não foi excepção, em 1965 é criada por José Luís Moro a “Família Telerín”, protagonista dos clips musicais espanhóis.
Em 1971 surge em Portugal a “Família Pituxa” que exibe notórias referências à espanhola “Família Telerín” e às personagens da série francesa “Le Manège Enchanté”. As personagens femininas apresentam semelhanças nas três séries, exibindo um lacinho na cabeça. O cão da “Família Pituxa” é uma clara homenagem ao Pollux francês, a Joana portuguesa deixa fugir o seu pijama da mesma forma que a Cleo espanhola e o bebé Pelé encontra o seu homónimo no bebé Cuquín.
Estas referências podem ser justificadas pela proximidade dos realizadores portugueses com os realizadores espanhóis, uma vez que Artur Correia e Ricardo Neto, fundadores do estúdio Topefilme, trabalharam em Espanha no estúdio Telecine-Moro, de Santiago e Luís Moro, realizadores da “Família Telerín”.
O tema deste tipo de séries de clips musicais é recorrente: marcar a hora de os mais novos se deitarem, e cada episódio é exibido durante um certo período de tempo que varia entre meses e anos. Quando a validade do episódio expira ele é substituído por outro, onde as personagens se mantêm.
Em Portugal, sstas séries eram encomendadas pela RTP (televisão pública portuguesa) e produzidas em estúdios de animação diversos. O tempo de exibição deste tipo de série variava substancialmente, dependendo, na maior parte das vezes do seu sucesso junto do público infantil. A série “O Patinho”, realizada por Rui Cardoso e produzida pelos estúdios da Animanostra em 1999/2001, é o exemplo mais recente e mediático, tendo alcançado um enorme sucesso. Segundo Humberto Santana (2003) “a rentabilidade [da série] foi de um para cem, investiu-se mil e ganhou-se mais de cem mil”. No entanto a série seria retirada do ar após os responsáveis de programação da RTP considerarem que “mandar as crianças para a cama é perder audiência” [Santana:2003]. Apesar deste contratempo em terras nacionais, o filme do patinho alcançou uma boa aceitação a nível internacional, tendo o Museu do Audiovisual de Nova Iorque adquirido uma cópia do filme para que a mesma configurasse dos seus arquivos.
A estas séries de clips musicais segue-se aquela que podemos considerar como sendo a primeira série temática portuguesa, “Contos Tradicionais Portugueses”, realizada por Artur Correia e Ricardo Neto na Topefilme, entre 1974 e 1977. A série exibida na RTP, e apoiada financeiramente pelo Instituto Português do Cinema, apresentava vários episódios de 8 minutos cada, onde os contos tradicionais portugueses como o “Caldo de Pedra”[1] ou “Os dez Anõezinhos da Tia Verde Água”, eram apresentados, não só aos mais novos, mas aos adultos também, tendo corrido todo o país, “em salas de cinema, em casas do povo, agremiações”. Artur Correia (2003) diz “ tal foi o sucesso, tantas as cópias tiradas, que se estragou um negativo, e foi feito um novo negativo a partir de uma cópia nossa [de Artur Correia e Ricardo Neto]”. Segue-se aos “Contos Tradicionais Portugueses” a série “O Ouriço-Cacheiro”, realizada também por Artur Correia e Ricardo Neto na Topefilme entre 1979 e 1989, tendo sido exibida na RTP. A série destinava-se ao público infantil e relatava as várias peripécias de um ouriço e seus companheiros em 9 episódios de 8 minutos cada. Escrita por Maria Alberta Meneres, esta foi uma série cronológica de intervalo popular na altura, tendo obtido, segundo Ricardo Neto, o primeiro lugar num festival que premiava a qualidade dos filmes dedicados ao público infantil. A encerrar aquele a que podemos chamar de primeiro período da produção de séries de animação temos a série “O Romance da Raposa” realizada por Artur Correia e Ricardo Neto na Topefilme entre 1987 e 1988. De toda a produção balizada entre 1970 e 1988, a série “O Romance da Raposa”, uma adaptação do romance de Aquilino Ribeiro, é a mais longa e elaborada, sendo constituída por treze episódios de treze minutos cada, apresentando no seu total 169 minutos, sendo a primeira série de grande envergadura produzida em território nacional. O sucesso que alcançou fez-se sentir não só a nível nacional, mas a nível internacional, tendo sido exibida em várias televisões internacionais, nomeadamente na Europa do Leste. Ainda hoje é possível encontrar várias referências a esta série na Web, nos fóruns sobre séries infantis ou desenhos animados, sejam eles nacionais ou internacionais[2].
Ainda durante este período podemos assinalar dois casos isolados, o primeiro referente a um episódio produzido em Portugal, pela Topefilme em co-produção com a Corona Cinematográfica, no ano de 1974, com o objectivo de participar num projecto europeu que consistia num conjunto de episódios reunidos sobre o tema “Série Favolística Europeia” e que se intitulava “Lenda do Mar Tenebroso”. Este episódio, realizado por Ricardo Neto tinha a duração total de doze minutos e marcou, segundo ele “a primeira presença portuguesa internacional a nível europeu, num conjunto de curtas-metragens de animação de diferentes estúdios da Europa.” [Neto:2003].
O segundo caso está relacionado com a realização de um episódio piloto para uma série, que não chegou a ser concretizada. O episódio intitulava-se “Patilhas e Ventoinha em o Caso da mosca TV” e tinha sido realizado por Artur Correia e Ricardo Neto, tendo a duração de um minuto. No entanto, por falta de apoio financeiro a série acabou por não se realizar.
[1] Este episódio foi seleccionado para o Festival Internacional Lucca em 1976 e para o Festival Internacional de Zagreb em 1978.
[2] É possível encontrar várias referências nacionais e internacionais à série na Web: www.mistériojuvenil.com (Portugal);
www.alambiquezz.blogspot.com (Portugal)
www.youtube.com/AnimacaoPortuguesa (Portugal)
www.memorabilia.blog.hr (Hungria);
http://static.wikipedia.org/new/wikipedia/hr/articles/l/i/s/Lisica_Sko%C4%8Dibarica_6143.html (Hungria)
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